sexta-feira, 13 de maio de 2011

Cine-Crítica: Contraponto



Terry Gillian é um cara estranho. O diretor dos excelentes filmes do Monty Pyton é famoso por dar a luz a projetos nada convencionais. Existem muitos filmes considerados obras-primas em sua filmografia que ainda não assisti, como Brazil – O Filme e Os 12 Macacos. No entanto, mesmo levando em conta apenas os seus filmes que eu assisti, Contraponto (Tideland, 2005) não pode ser considerado o melhor, nem tampouco, ruim.

Esta obra de Gillian caracteriza-se principalmente pela agressividade e crueza. Na primeira cena do filme, a personagem Jeliza-Rose lê uma passagem de Alice no País das Maravilhas. Na próxima cena, a personagem (que é uma criança de aproximadamente 10 anos) aparece preparando uma dose de heroína para seu próprio pai, ou as “férias”, como ele diz. Após a morte de sua mãe devido a uma overdose de metadona, Jeliza-Rose e Noah (seu pai) se mudam para uma casa abandonada no campo, que pertencia a mãe de Noah. A partir de então, Jeliza começa a viver em um mundo onde ela mistura a fantasia com o mundo real, é a forma que ela encontrou de lidar com a dura realidade. Outros personagens aparecem mais tarde, Dell, uma taxidermista velha e cega de um olho, e seu irmão com problemas mentais, Dickens.

Gillian elabora cenas de beleza visual inquestionável, e sua câmera inquieta, aliada com ângulos estranhos e delirantes tornam toda a experiência um tanto incômoda. E parece que é isso mesmo que o diretor queria. O filme é repleto de cenas perturbadoras, como o relacionamento entre Rose e Dickens. Não que estas cenas mostrem algo realmente forte, mas temos a sensação de que algo de pior pode acontecer a qualquer momento. Por outro lado, vale lembrar que AMBOS os personagens são crianças e portanto, possuem uma inocência difícil de ser compreendida por nós, adultos. Há também algumas cenas repugnantes e nojentas. Em contraponto (não é um trocadilho) a essas, existem outras cenas de uma pureza cativante. Me refiro as solitárias brincadeiras de Jeliza em seu mundo de faz de conta, e neste ponto, me obrigo a falar da atuação da então pequenina Jodelle Ferland. Todos os atores fazem muito bem seus papéis, até aqueles que mal aparecem, mas Jodelle (a Sharon de Silent Hill), no papel de Jeliza, segura o filme quase sozinha, já que ela está em praticamente todas as cenas, e boa parte dessas, contracenando com ela mesma. As brincadeiras com suas quatro cabeças de boneca que ela coloca na ponta dos dedos impressiona, principalmente pelas vozes que Jodelle dá a cada uma delas, realizando diálogos (que na verdade são monólogos) encantadores. Além disso, a atriz cativa o expectador, que é fisgado pelo seu carisma.

No geral, os pontos baixos do filme são poucos, mas que podem ser considerados alguns dos mais importantes. Cito aqui a falta de ritmo, que torna o filme cansativo, e a impressão que fica ao final, de que o objetivo da história não foi totalmente alcançado, e que a premissa poderia ter ido mais longe.

Mesmo assim, Contraponto é um filme belo, mesmo que não seja para qualquer público. É sobre abandono, sobre o efeito das drogas em uma família e, acredito que principalmente, sobre inocência.

NOTA: 7,5

2 comentários:

  1. Acabei de ver esse filme. É estranho, diferente. É uma fantasia, ao mesmo tempo, trabalha com elementos do horror.

    Encanta e as vezes, da um medo, um receio, por não saber o q irá acontecer.

    Interessante, srsrrs

    ResponderExcluir
  2. Um pouco da atmosfera do Labirinto do Fauno. Crianças fugindo pelo portal de sua imaginação da dura realidade que as cerca. Terry Gilliam é um Tim Burton ao avêsso. Gosto muito dos dois.

    ResponderExcluir